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ITAJUÍPE E A MATÉRIA QUE CAIU POR CAUSA DO TEMPORAL

O mais ridículo de tudo isso é que não se atentou para trazer a matéria sobre o temporal que impediu o último dia de treinamento da delegação itajuipense

Walmir Rosário | [email protected]

O município de Itajuípe sempre formou atletas nas mais diversas modalidades esportivas, tendo o futebol o seu carro-chefe, cuja expressão máxima era o famoso Bahia de Itajuípe,  clube que também promovia notáveis festas. Desde os anos 1950 muitos desses destacados atletas jogavam nas principais equipes de Itabuna, alguns titulares absolutos da badalada Seleção de Itabuna, bicho-papão do Campeonato Intermunicipal Baiano.

Àquela época, nas cidades do interior baiano, o futebol amador era um esquema semiprofissional, em que as equipes contratavam jogadores agraciando-os com o pagamento das luvas com geladeiras, bicicletas e até emprego em bancos ou outras empresas sólidas. Mensalmente eram recompensados com salários e nas vitórias com os famosos bichos além de presentes de torcedores fanáticos e pródigos.

Em Itajuípe não era diferente e a Prefeitura bancava grande parte das despesas com o futebol amador (?), incluindo, nessa conta, os gastos com a Seleção Amadora que disputava o Campeonato Intermunicipal, bem como todos os treinos e jogos preparatórios. Naqueles tempos nem tão distantes, o futebol era a alegria das multidões, mas sempre sobrava espaço para outras modalidades esportivas, essas, verdadeiramente amadoras.

No final da década de 1980 e início da de 1990 era eu o titular da Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Itajuípe, na administração de Carlos Alberto Batista (o Mino). Desportista nato, Mino investia forte no esporte em geral, na chamada base: os alunos da rede municipal da educação, que participava com brilhantismo dos Jogos Abertos do Interior.

E o comandante dessa galera era o professor Wanderlito Barbosa (Litinho), funcionário público, serventuário da justiça e professor de educação física, que comandava essa legião de jovens atletas com seu grande coração e um misto de rigidez e seriedade. Para uma cidade do porte de Itajuípe, a delegação surpreendia pela quantidade de modalidades esportivas inscritas nas competições.

Neste ano (1989 ou 90, não me recordo bem), Itajuípe participaria do campeonato em 11 modalidades, muitas delas com amplas chances de vitória, o que aumentaria consideravelmente a sala de troféus. Às 8 da manhã o comandante Litinho passa na assessoria de comunicação, me passa os detalhes das equipes, a frequência de treinamentos, enfim, todos os ajustes das equipes.

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Solicitei ao fotógrafo da assessoria que fizesse umas fotos dos treinos para enviar à imprensa junto com o release, o que por certo teríamos um bom aproveitamento na mídia regional e estadual, diante da importância das informações. Ainda durante o fim da manhã liguei para as redações de rádios, jornais e televisões, dando a dimensão da delegação de Itajuípe, que foi bem recebida pelos colegas dos veículos de comunicação.

Logo após ao meio-dia recebi uma ligação do chefe de redação de um dos canais de televisão de Itabuna, solicitando mais detalhes dos treinamentos e garantindo a presença de uma equipe logo nas primeiras horas da manhã seguinte. Conversei com comandante Litinho para deixar todas as equipes a postos, já que a matéria seria veiculada no jornal do meio-dia, com possibilidades de veiculação na rede estadual.

Nos sentimos recompensado pelo trabalho, afinal nem mesmo as delegações de Itabuna e Ilhéus ganharia destaque igual, apesar da superioridade social, econômica e populacional sobre a pequena Itajuípe. Agora, era deixar tudo organizado nos mínimos detalhes e faturar os louros com as matérias nos jornais, rádios e televisões, dando confiança aos atletas que enfrentariam as equipes adversárias.

No dia seguinte, como era esperado, os veículos de comunicação da capital, Ilhéus e Itabuna destacavam a força do esporte itajuipense, que por certo brilharia no cenário estadual baiano. Agora, faltava apenas a matéria televisiva para coroar com brilhantismo o trabalho da preparação das 11 equipes, que se apresentariam com segurança no maior certame colegial amador esportivo da Bahia.

Por volta das 9 horas recebo Litinho na assessoria comunicando uma péssima notícia: o canal de televisão resolveu não fazer a matéria programada, embora todos os atletas e treinadores estivessem presentes. E, quando perguntei pelo porquê da desistência, Litinho me reponde que o pessoal da reportagem achou por bem não fazer a matéria, tendo em vista que o temporal que caiu na madrugada teria destelhado o ginásio de esportes.

Mesmo sendo oferecido outros locais, a chefia da reportagem disse que não ficaria bem fazer uma matéria descaracterizada, já que o local oficial dos treinamentos estaria danificado pelas fortes chuvas. Perto do meio-dia recebo outra ligação do chefe de redação solicitando informações do que houvera, no que expliquei com todos os detalhes, lamentando a queda da reportagem.

Como resposta, ouvi do chefe de redação da emissora de televisão diversos impropérios sobre a chefia daquela equipe de reportagem, que considerava a pauta recebida como uma espécie de constituição, que não poderia ser maculada. E por fim, o meu amigo televisivo ainda disparou: “O mais ridículo de tudo isso é que não se atentou para trazer a matéria sobre o temporal que impediu o último dia de treinamento da delegação itajuipense”.

Recentemente, conversando com o cinegrafista daquela pauta, demos boas gargalhadas.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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