EU PENSAVA QUE O MUNDO IRIA SE ACABAR COM FOGO
Walmir Rosário
Acredito que Canavieiras vai se acabar em águas. Pela quantidade e violência das chuvas, acompanhadas de trovoadas e relâmpagos, pensei que seria minhas últimas horas como um ser vivente. Deve ser o pecado desse povo! Valha-me Deus! Pelo que me lembro, várias profecias e teses profanas já vaticinaram o fim do mundo, desta vez em fogo, mas eu tenho medo é da chuva. E como tem chovido!
Na madrugada de sexta-feira pra sábado, da semana atrasada (20 de novembro), ela chegou como quem não queria nada e provocou pânico, alagando ruas e casas, da maneira mais democrática possível. Acordou a população, que se armou de vassouras e rodos para limpar a sujeira deixada no interior das residências e casas comerciais. Sujeira maior ficou nas ruas, atulhadas com os móveis e outros objetos danificados.
No fim de semana passada não deixou por menos e voltou a incomodar, um pouco mais fraca, é verdade, deixando o povo em polvorosa, acordado, pronto para repelir a temida invasão. E não é que repetiu na noite desta segunda para terça-feira (29). Pelos cálculos dos meteorólogos, nunca choveu tanto na cidade e muito ainda há por vir, e com bem mais intensidade.
Eu não sou dado a noticiar fatos ou previsões com estardalhaços, para atemorizar a população, já cansada das notícias escabrosas veiculadas pela grande mídia, mas confesso que estou temeroso do que poderá acontecer. E por um simples motivo: as chuvas que têm caído aqui pra nós são bem diferentes daquelas que fazem o rio Pardo transbordar e invadir tudo o que tem pela frente, sem pedir permissão.
Agravante maior me veio à mente com a tese de uma caranguejóloga sergipana, que no ano 2000 disse, com todas as letras, que Canavieiras seria engolida pelo mar e o rio Pardo, em no máximo 20 anos. À época, cheguei a traçar um plano B para abrigar os amigos em terras mais altas, a exemplo dos morros de Itabuna, projeto que estou desengavetando e que pretendo colocar em prática o mais rápido possível.
E não me baseio apenas na tese da especialista sergipana. Também fiz questão de recorrer ao oráculo, notadamente a São Boaventura, padroeiro de Canavieiras e seráfico doutor da Igreja Católica. Uma certa feita, há muitos anos, a imagem do Santo desapareceu da Igreja, em Canavieiras, e posteriormente foi encontrada no distrito do Puxim, local em que apareceu após o naufrágio do navio português em que viajava.
Pois bem, para melhor esclarecimento dos fatos, por ocasião dos festejos dos 300 anos da Paróquia de São Boaventura, um grande pôster com sua foto foi encontrada de cabeça pra baixo, no local da exposição. Somente esta foto. À época, tal estripulia foi creditada ao ateu Tyrone Perrucho, que teria visitado a exposição em companhia do confrade Antônio Tolentino (Tolé), este vizinho da matriz.
Pesquisando os fatos históricos, tomei conhecimento que desde o sumiço de São Boaventura da Igreja Matriz, se tornou conhecido o motivo de seu retorno ao Puxim. E tal decisão chegou ao extremo, dado o número de pecadores que grassam na cidade. Outro Santo bastante amado em Canavieiras, São Sebastião, há uns três anos também teria se mostrado descontente, tanto assim que o mastro em sua homenagem não foi erigido, por mais que os carregadores tentassem.
Com esses avisos divinos e a teoria científica, achei melhor colocar minhas barbas de molho e apresentar o projeto aos confrades. Em vão! Não consegui alcançar o quórum exigido pelos estatutos da Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas, ocupação que era de obrigação de Tyrone Perrucho, levado extemporaneamente e a contragosto pela tal da Covid.
Diante de tal relevante fato, terei que adotar medidas extremas, batendo à porta de cada um dos confrades para dar ciência da gravidade do problema e apresentar a solução cabível requerida ao caso. Para tanto, teremos que recambiar o engenheiro de minas Gilbertão, atualmente em Santa Cruz Cabrália; tirar Tedesco dos seus estudos sobre navegação e, quem sabe, conseguir libertar Alberto Fiscal de seu retiro na Atalaia.
Antes dessa próxima e urgente reunião extraordinária, aproveitarei os festejos de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do mesmo nome, em Itabuna, para rogar à Mãe do Salvador sucesso nessa importante empreitada. Como todo o brasileiro que tem um pé no religioso e outro no profano, participarei de reuniões com o apoio dos confrades Augusto e Ériston, nos bares de Leto e Valtinho, requerendo apoio aos futuros desabrigados.
E tudo tem que ser feito com urgência, antes do Carnaval chegar…
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.